O carnaval é a maior festa popular do Brasil. Festa profana trazida pelos portugueses no século XVII, no seu início era uma diversão do povo. Pessoas iam às ruas para se divertir, jogando água e farinha umas nas outras.
O Brasil é conhecido mundialmente como o país do carnaval. Mas hoje a festa popular de outros tempos tornou-se um espetáculo de grandes proporções, onde escolas de samba e famosos disputam notoriedade, despendendo grande soma de dinheiro.
A lembrança que tenho do carnaval remonta à minha infância, ao passeio que dava com mamãe pelas ruas do centro de São Paulo.
Tenho em mãos uma foto da época: vestido de flores, laço de fita combinando nos cabelos, meia soquete branca e graciosos sapatos estilo boneca. Era o traje de ir à missa aos domingos. Diferente do de uma criança brasileira que certamente sairia fantasiada e todos comentariam “Que bonitinha!” Assim como, se mamãe fosse uma mãe brasileira sentiria orgulho de ver sua filha ser elogiada por todos.
Lembro que papai fazia questão de me comprar os acessórios de carnaval. Mas eu não tinha coragem para jogar confete e serpentina nos outros. O lança-perfume, como era bem mais caro, mamãe não queria desperdiçá-lo e ela borrifava nas pessoas com quem cruzava pelas ruas. Acho que se divertia muito.
Nunca fui expansiva, de gostar de ficar no meio da multidão em clima de alegria. Por isso, quando mamãe me contou como tinha sido o primeiro carnaval de sua vida, aquilo ficou na memória e, muito tempo depois, ao escrever meu primeiro livro, dediquei um capítulo a respeito do carnaval entre os nikkeis da época.
Aos vinte e poucos anos, mamãe foi conhecer o carnaval juntamente com minha tia e mais duas amigas. Foram sacolejando na carroceria do caminhão de um conhecido, rumo à cidade.
O carnaval acontecia num grande celeiro. Os foliões formavam um enorme círculo que rodopiava pelo salão; por vezes essa roda tomava uma forma oval parecendo um impressionante bicho que se retorcia.
Dentre os participantes, apenas uma representante nikkei: a filha de um ricaço da região, lindamente fantasiada e que cantava e dançava tão bem como uma brasileira – como uma estrela dos dias de hoje.
O primeiro carnaval que viam era um assombro! Estavam paradas na entrada, quando um rapaz saiu da roda e, puxando pela mão uma das amigas de mamãe, tornou a entrar na roda.
Tão espantada ficou Aguri-san, que continuava segurando firme o guarda-chuva, mas, em questão de segundos, começou a acompanhar o ritmo contagiante do “Alah-lá-ô”.
Quando perceberam, todas estavam na roda.
Acabada a folia, as quatro amigas se entreolharam e riram a valer!
Não vestiam fantasia, mas o rosto e os cabelos cobertos de poeira misturada ao suor, davam impressão que usavam a mais original das máscaras!