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OHAYO Bom dia

Capítulo 6: Liberdade

Naquela época, a Liberdade parecia um mundo à parte.

Era o ano de 1964, quando fui fazer o científico no Roosevelt.
Saindo da última aula às seis, percorria a rua principal todinha para chegar no ponto inicial do ônibus.
Para a colegial de uniforme azul e branco que passava com pressa, era como se fosse Urashimataro entrando de repente no reino encantado do fundo do mar.

Letreiros luminosos piscando sem parar, sucessão de luzes de néon. O entra e sai nas casas de diversão eletrônica.
Tipos diferentes que não se viam à luz do dia começavam a aparecer, como toupeiras saindo das tocas: óculos escuros, paletó pra lá de extravagante sobre os ombros, chinelos de dedo.
Chinelos que eram invariavelmente menores que os pés, fazendo com que o espectador sem querer imitasse o andar, levantando o calcanhar a cada passo.
Mulheres vestidas de quimono e rosto coberto por espessa camada de pó de arroz entravam sorrateiramente nas pequenas casas que se escondiam nas ruas transversais.

Relembrando tanto tempo depois, mais parecia cena de filme.

Moro atualmente em uma cidade do interior e raramente vou à Capital, mas toda vez que isso acontece meus pés automaticamente se dirigem à Liberdade.

A Liberdade mudou. O comércio acompanhou o tempo e desenvolveu-se, mas eu me refiro às pessoas que frequentam o local.

Na praça da estação de metrô existem bancos onde pessoas nikkeis ficam sentadas.

É o velhinho de chapéu que lê jornal, são companheiros da turma de ginástica ou de xadrez que conversam animadamente. Senhoras voltando das aulas de artesanato, de arranjo de flores. Jovens que combinam a ida às baladas de final de semana.
Há também idosos de semblante triste. “Já que é um estorvo dentro de casa, por que não fica o dia fora?” Sem ao menos dispor de um dinheirinho para um lanche, passam o dia andando a esmo. “Que se há de fazer?”

Indo pela Galvão Bueno, um velhinho se aproxima sem jeito: “Não quer comprar kon-nyaku?” Mais adiante, uma senhora com um lenço sobre os cabelos grisalhos oferece yokan que traz numa cesta. O sol do meio-dia é forte.

Tempos atrás, uma vistosa senhora se sobressaía, de vestido vermelho primaveril, laço vermelho em forma de borboleta que parecia voejar sobre os cabelos branquinhos. Descalça, dava passinhos de dança no meio da praça, depois sentava no banco com pose de quem escreve algo, um poema, quem sabe... O homem de barba estendia a mão encardida sem cerimônia: “Dá um real”.

Só de lembrar me dá um aperto no coração, um sentimento de nada poder fazer.

Isto é a Liberdade!
Ironia do destino?

© 2011 Laura Honda-Hasegawa

Brazil liberdade sao paulo

Sobre esta série

Meus avós vieram do Japão há mais ou menos 100 anos. Eu nasci no Brasil. Por isso, quero servir de “ponte” entre o Brasil e o Japão. O Japão que está arraigado no meu coração é um tesouro que quero guardar para sempre.  E foi movida por esse sentimento profundo que escrevi a presente série.  (Bom dia em japonês é Ohayo)