Mamãe e papai queridos,
Eu sou a Mary, sua filha, e vocês são meus pais, Yaeko e Yoneto Nakata. Lamento muito que essa carta tenha levado tanto tempo para ser escrita. Tornei-me muito ocupada com o trabalho, casamento e família. Eu não encontrava as palavras certas para expressar meu apreço e agradecimento a vocês. Não percebi toda a dor que vocês sofreram após a Segunda Guerra Mundial.
O Ano Novo de 1948 era para ser o evento mais feliz para nossa família no Japão. Fui a primeira menina bebê chamada Mary a chegar à 01h da madrugada. Eu não sabia que começar uma nova vida nos Estados Unidos terminaria em tamanha tragédia em 28 de maio de 1948.
Vovô e vovó estavam cuidando de mim no Japão, quando chegou a notícia do falecimento do meu pai. Ele tinha apenas 29 anos de idade. Mamãe era uma viúva de 21 anos. Eu tinha seis meses de idade e nunca soube sobre o papai. Enquanto eu crescia, minha mãe dizia que meu pai foi um veterano do Serviço de Inteligência Militar (MIS) do Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Ele foi um cidadão americano, com seus primos no Campo de Concentração Jerome, em Arkansas, e outros parentes no Japão.
Deve ter sido difícil para o papai escolher a sua lealdade, mas ele fez seu dever como americano. Ele teve que estudar arduamente inglês e japonês no Military Intelligence Language School, em Fort Snelling, Minnesota. Meu pai nunca desistiu do seu sonho de se tornar um soldado do Serviço de Inteligência Militar (MIS). Ver uma foto antiga de seu funeral militar com doze soldados do exército dos EUA em posição de sentido mostrou-me o quanto os Estados Unidos apreciavam o papai. Na frente do cemitério Evergreen, em Los Angeles, havia o caixão do papai com uma enorme bandeira americana, quatro grandes buquês de flores e muitas pessoas em luto vestidas de preto. Então, no meio do grupo estava a mamãe vestida com um simples terninho preto. Ela parecia muito triste e frágil debaixo de seu grande chapéu preto. Quando mamãe disse que enviara as cinzas do meu pai para Hiroshima, no Japão, eu chorei porque nunca tive a chance de dizer meu adeus a ele. Eu não entendia que meu pai era filho único e que devia ser devolvido ao país de origem de seus pais.
Mamãe, eu te perdoei por ter se casado novamente. Você tinha que se casar de novo para me trazer para casa nos Estados Unidos. Eu tinha 2 anos de idade, com um novo pai e mais tarde uma nova irmãzinha. A idade e a diferença de idioma do seu novo marido tornaram muito difícil sobreviver ao casamento. O divórcio deve ter feito você se sentir sozinha e insegura, sem um marido mais uma vez.
Você tinha 31 anos e tentou mais uma vez no casamento. Eu me lembro de ter 13 anos e cuidar da minha nova irmã. Você nunca desistiu de casamento ou família. Você manteve todas as três filhas juntas sob o mesmo teto e nos tratou igualmente.
Mais uma vez, a tragédia golpeou nossa casa. Você se tornou uma viúva aos 64 anos de idade. Eu queria saber por que seus casamentos nunca duraram. Então me lembro de você dizendo que sempre acreditou no destino. O seu primeiro casamento terminou em tragédia. Portanto, você aceitou todos os futuros casamentos terminarem em desgraça. Sempre pensei que o seu destino aconteceu por uma razão que era fazer de você uma mãe muito mais forte para suas filhas.
Você sempre me disse que o papai salientava a importância da educação universitária, enquanto fornecia o incentivo para mim. Você incutiu em mim o valor de nunca desistir. Eu fui a primeira a me formar na faculdade e me tornar professora de escola primária. Pude me aposentar do Distrito Escolar Unificado de Los Angeles depois de 36 anos de ensino.
Foi difícil ver a mamãe sofrer de Alzheimer e vê-la falecer aos 86 anos em 30 de abril de 2013. Ela sempre foi tão cautelosa, serena, muito teimosa, mas honesta. A doença de Alzheimer definitivamente mudou a mamãe. Ela se tornou mais disposta a me deixar ajudá-la e protegê-la. Eu realmente comecei a me conhecer, aprendendo mais sobre meus pais. Tornei-me uma pessoa melhor e mais forte, esposa e mãe. Eu nunca mudaria algo na minha vida. Sei que nunca vou ser capaz de ver fisicamente os meus pais novamente. Apesar disso, sempre vou valorizar e manter todas as lembranças que compartilhamos juntos. Agradeço aos meus pais por me darem uma vida melhor. Agora, agradeço a minha própria família com um marido amoroso, John Sunada, e dois filhos, James e David.
De sua filha dedicada,
Mary