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Histórias de Decasséguis

História nº 38: Minha querida família

Meu nome é Mitsuno e sou uma menina de 11 anos. Meu pai é nikkei peruano e minha mãe é nikkei nascida no Brasil. Eu nasci no Japão e a mamãe me deu esse nome em homenagem à querida avozinha dela.

A mamãe veio ao Japão junto com o marido Ricardo quando tinha 21 anos, deixando a filha Monika de 2 anos no Brasil. Mas seu marido não se deu bem com a vida japonesa e acabou voltando para o Brasil em menos de meio ano.

A mamãe continuou no Japão cerca de um ano trabalhando numa panificadora e depois voltou ao Brasil. Teve longas conversas com o marido, mas eles acabaram se separando.

Depois disso, ela foi morar junto com a Mitsuno Baatchan, que estava cuidando da Monika, e ficou procurando um emprego, mas como não achou nada adequado, decidiu voltar ao Japão. Desta vez, levando junto a Monika de 4 anos.

Mamãe é uma batalhadora! Deixava a Monika na escola das oito da manhã às 5 da tarde, enquanto trabalhava na mesma panificadora de antes. À noite, preparava em casa marmitas de comida brasileira que, na manhã seguinte, entregava num alojamento de trabalhadores brasileiros. Acho que ela andava muito ocupada!

Quando a Monika entrou no Chugakko1, mamãe mudou de emprego. Foi trabalhar num restaurante que antes era só de comida japonesa, mas como estava aumentando o número de clientes estrangeiros, principalmente brasileiros e peruanos, a proprietária quis incluir no cardápio pratos regionais desses países e convidou a mamãe.

Para ajudar nas despesas da casa, a Mitsuno Baatchan fazia quibes e coxinhas para vender e a mamãe cresceu vendo essa trabalheira toda. Por isto pensou: “Eu também posso!” e aceitou trabalhar na cozinha do restaurante. Logo, os quibes e coxinhas da Batchan entraram no cardápio e fizeram sucesso entre a clientela.

Era um dia de domingo e mamãe serviu pela primeira vez um prato da cozinha peruana chamado “ceviche”. Logo avisaram: “Tem um cliente querendo falar com você” e ela foi à mesa indicada.

- Muito obrigado! O ceviche está o máximo!

Assim falou o rapaz e junto dele estavam 3 rapazes e uma senhora, que também elogiaram muito! Ao lado, dois garotinhos comiam coxinhas com gosto!

O nome do rapaz era Takashi Takeuchi, um nikkei peruano. Estava trabalhando no Japão para custear as despesas médicas da sua esposa que estava com uma doença grave. Mas, infelizmente ela acabou falecendo e Takashi mandou buscar os filhos para viverem com ele no Japão. E nesse dia de domingo, todos estavam comemorando a chegada das crianças.

A partir daí, Takashi e os filhos passaram a frequentar o restaurante. Aos poucos, Alfonso de 8 anos e Alberto de 6 anos pareciam estar se adaptando à vida japonesa.

Em 2009, bem na época das cerejeiras em flor, mamãe e Takashi se casaram. Eu nasci em 2010 e meu irmão em 2013. O nome dele é Kiyohiko e é o mesmo nome do pai do papai, o nosso Jitchan. Tanto o papai como a mamãe são muito gratos por serem descendentes de japoneses. Porque se não fosse isto, eles nunca teriam se conhecido no Japão.

Atualmente, a Monika está morando no Brasil, estudando para seguir a carreira de arquiteta. Recentemente, o seu pai pegou o Corona e ela está ajudando a cuidar dele.

O Alfonso se formou no curso profissionalizante e está trabalhando em Osaka. O Alberto está no último ano do ensino médio e quer trabalhar junto com o papai na mesma fábrica de carros. O Kiyohiko é apenas um shogakusei2 que gosta de futebol e eu, tenho um grande sonho, que é ser desenhista de mangá e escritora.

O papai e a mamãe trabalham com dedicação e continuam cantando no karaokê toda vez que estão de folga. Acho que o sonho deles é um dia poderem participar do programa “NHK Nodojiman”3.

Esta é a família que tanto amo!

Notas:

1. Estudante do ensino fundamental II

2. Estudante do ensino fundamental I

3. Tradicional programa de calouros da NHK

 

© 2021 Laura Honda-Hasegawa

brazil dekasegi fiction

Sobre esta série

Em 1988 li uma notícia sobre decasségui e logo pensei: “Isto pode dar uma boa história”. Mas nem imaginei que eu mesma pudesse ser a autora dessa história...

Em 1990 terminei meu primeiro livro e na cena final a personagem principal Kimiko parte para o Japão como decasségui. Onze anos depois me pediram para escrever um conto e acabei escolhendo o tema “Decasségui”. 

Em 2008 eu também passei pela experiência de ser decasségui, o que me fez indagar: O que é ser decasségui?Onde é o seu lugar?

Eu pude sentir na pele que o decasségui se situa num universo muito complicado.

Através desta série gostaria de, junto com você, refletir sobre estas questões.